4 de dezembro de 2009

o sinal da banana se manifesta mais uma vez

9 de outubro de 2009



A questão difícil acerca da liberdade é sempre a de saber o que se vai fazer com ela. O mesmo acontece nos filmes.

Adrian Martin

Que poder é o do cinema que conseguiu sobreviver a (e até lucrar artisticamente com) tanta negligência e desprezo ignorante por parte dos que tinham poder sobre ele? O que é o cinema?

Stanley Cavell

28 de setembro de 2009

Seja documentário ou ficção o todo é sempre uma grand ementira que contamos. Nossa arte consiste em contá-la de modo que acreditem nela. Se uma parte é documentário e outra parte é reconstituição, isso diz respeito ao método de trabalho, não ao público. O mais importante é alinhar uma série de mentiras de modo a alcançar uma verdade maior. Mentiras irreais, mas de algum modo verdadeiras. É isso que importa [...] Tudo é inteiramente mentira, nada é real, mas o todo sugere a verdade.

Abbas Kiarostami

24 de setembro de 2009

Nha cretcheu, meu amor
O nosso encontro torna a nossa vida mais bonita, pelo menos há mais de trinta anos.
Pela minha parte, torno-me mais novo e volto cheio de força.
Eu gostava de te oferecer cem mil cigarros,
uma dúzia de vestidos daqueles mais modernos,
um automóvel,
uma casinha de lava que tu tanto querias,
um ramalhete de flores de quatro tostões.
Mas antes de todas as coisas
Bebe uma garrafa de vinho do bom,
Pensa em mim.
Aqui o trabalho nunca pára.
Agora somos mais de cem.
No outro ontem, no meu aniversário
Foi altura de um longo pensamento para ti.
A carta que te levaram chegou bem.
Não tive resposta tua.
Fico à espera.
Todos os dias, todos os minutos,
Todos os dias aprendo umas palavras novas e bonitas, só para nós dois.
Mesmo assim à nossa medida, como um pijama de seda fina que tu não queres.
Só posso te chegar uma carta por mês.
Ainda sempre nada da tua mão.
Fica para a próxima.
Às vezes tenho medo de construir esta parede
Eu, com picareta e cimento
E tu, com o teu silêncio
Uma vala tão funda que te empurra para um longo esquecimento.
Até dói cá dentro ver estas coisas más que não queria ver
O teu cabelo tão lindo cai-me das mãos como as ervas secas.
Às vezes perco a força e juro que vou esquecer de mim.

Fontainhas, 2005, Pedro Costa, DVCam, cor 4:3, 4 minutos e 36 segundos

23 de agosto de 2009

arte da relação, o cinema não pára de se tornar (novamente) o meio pelo qual ainda é possível criar uma relação entre os homens que não seja de exploração.

p299

10 de agosto de 2009

Máximas da sabedoria cinematográfica



"filme bom tem gorila"

maurício rezende

28 de julho de 2009

é tênue o limite entre estar motivado e iludido com um novo amor, difícil se manter nesse fio. viver é mesmo muito perigoso

bananas do amor

– somos uns bananas, uns bananas do amor, é um traço da nosso temperamento contra o qual não podemos lutar.
– é vero.

20 de julho de 2009

fazer de conta

rouch

19 de julho de 2009

O filme começou, só falta o final e algumas cenas do meio.

jean rouch (logo depois de gravar o primeiro plano de um de seus últimos filmes: As vacas sagradas)

8 de julho de 2009


"A capoeira entre as lutas, é a mais amável que existe,
Deus designou fosse puro e belo."

Mestre Pastinha

eu, olho, máquina

“I’m an eye. A mechanical eye. I, the machine, show you a world the way only I can see it. I free myself for today and forever from human immobility. I’m in constant movement. I approach and pull away from objects. I creep under them. I move alongside a running horse’s mouth. I fall and rise with the falling and rising bodies. This is I, the machine, manoeuvring in the chaotic movements, recording one movement after another in the most complex combinations. Freed from the boundaries of time and space, I co-ordinate any and all points of the universe, wherever I want them to be. My way leads towards the creation of a fresh perception of the world. Thus I explain in a new way the world unkown to you.”

Kinoks Revolution is a 1923 manifesto by Dziga Vertov.

2 de julho de 2009

Qualquer pessoa que decida tornar-se um diretor está colocando em risco todo o resto de sua vida, e por esse risco apenas ele será responsável. O ideal seria que essa decisão fosse sempre tomada por alguém já amadurecido; o enorme número de professores que preparam o artista não pode se responsabilizar pelos anos sacrificados e perdidos pelos que fracassaram e que saíram diretamente dos bancos escolares. A seleção dos estudantes para esse tipo de curso não deve ser feita pragmaticamente, pois envolve uma questão de ética: oitenta por cento dos que estudaram para se tornar diretores ou atores vão engrossar as fileiras das pessoas profissionalmente inadequadas, que passam o resto de suas vidas gravitando em torno do cinema. A grande maioria desses frustrados não tem forças para desistir de filmar e mudar de profissão. Depois de terem dedicado seis anos ao estudo do cinema, é muito difícil para as pessoas desistir de suas ilusões.

(Esculpir o Tempo, Andrei Tarkovski, p. 105)

30 de junho de 2009

tempo é o que se tem

28 de junho de 2009

Declarações do Desamor


Camila Buzelin

viva a noite fria e urbana de domingo. imperativo ou comemorativo.

26 de junho de 2009


de noite na cama eu fico pensando


pensando sobre a relação do corpo com a câmera e me fotografando. sobre os filmes que quero fazer e ainda não fiz. sobre como vou fazer pra pagar as contas mês que vem. sobre amar o amor. sobre o cuidado que devo ter com o que desejo. sobre o tempo. depois eu fecho o olho pra ver se durmo.

24 de junho de 2009

perdido

a kind of lost

23 de junho de 2009

o homem e a camera - comolli

É sobretudo, o fato de ser uma máquina que faz do cinema a arte por excelência das relações subjetivas.

18 de junho de 2009

saí de lá pela manhã, caminhante, com um par de pernas de pau nos ombros, e uma dúvida a martelar sem esquiva.

vale?
quanto vale?
ainda resta dignidade?
e se resta, o que fazer com ela?

time, it's a gift (?)

6 de junho de 2009

e como li

há uma diferença entre aquilo que o cineasta ou o operador de câmera vê e aquilo que é filmado. Essa diferença tem nome: cinema. Ela tem a ver com o fato inalterável de que a máquina cinematográfica registra, à sua maneira, a cena que se desenvolve diante dela. Inscrição verdadeira: é preciso uma câmera (quero dizer: todo aparelho maquínico que a acompanha, inclusive a película) e um ou vários corpos, uma ou várias coisas, uma ou várias luzes, para que haja registro. Mas esse registro é uma tradução do mundo da experiência sensível na linguagem de uma máquina. Primeira variação: a câmera substitui nosso olhar binocular por um olhar monocular. Além do mais esse olho único da objetiva não funciona como o nosso, ele obedece às leis da ótica de manneira bem mais rígida (é uma máquina). Segunda variação, esta de peso: esse olhar ciclópico é enquadrado. O quadro evidentemente limita o campo de visão. Fabrica o in e o off, articulação fundamental do cinema (mais que da fotografia, que tembém é enquadrada, pelo fato de que o registro do movimento dramatiza o quadro). Dessa maneira, o quadro dá acesso a uma escrituda do visível e do invisível. Emfim, terceira variação, a menos perceptível, a mais denegada, a gravação é não apenas descontínua, mas também regularmente medida: 24 ou 25 fotogramas por segundo. Toda coisa filmada passa por uma peneira de espaço, tempo e medida que a transforma.

jean-louis comolli
ver e poder
editora ufmg, 2008
p. 233

3 de junho de 2009

perola negra

beibe te amo, nem sei se te amo.

2 de junho de 2009

Vela No Breu


Ama e lança chamas
Assovia quando bebe
Canta quando espanta
Mal olhado, azar e febre

Sonha colorido
Adivinha em preto e branco
Anda bem vestido
De cartola e de tamanco

Dorme com cachorro
Com um gato e um cavaquinho
Dizem lá no morro
Que fala com passarinho
Desde pequenino
Chora rindo
Olha pra nada
Diz que o céu é lindo
Na boca da madrugada

Sabe medicina
Aprendeu com sua avó
Analfabetina
Que domina como só
Plantas e outros ramos
Da flora medicinal
Com 108 anos
Nunca entrou num hospital

Joga capoeira
Nunca brigou com ninguém
Xepa lá na feira
Divide com quem não tem
Faz tudo o que sente
Nada do que tem é seu
Vive do presente
Acende a vela no breu


paulinho da viola

31 de maio de 2009

As estátuas também morrem


um negro em movimento ainda é arte negra.

fragmento do filme As estátuas também morrem, de alain resnais e chris marker.
fuderoso. mudou minha vida.

ver e poder

eles me fazem redescobrir essa evidência esquecida de que o cinema é, antes de tudo, uma arte física. Como a ginástica, o boxe, a dança ou o combate amoroso.

jean-louis comolli

26 de maio de 2009

audio

minha mãe sempre dizia
minino tome juízo
mulher é muito bom
mas também dá prejuízo

eu num vo na sua casa
pra você não ir na minha
você tem a boca grande
pra comer minhas galinhas, camaradin...

yê maior é deus
pequeno sou eu

24 de maio de 2009

essa

essa mulher me deixou descontrolado

22 de abril de 2009

ser tão

Para ódio e amor que dói, amanhã não é consolo.

Riobaldo Tatarana

14 de março de 2009

do grande sertão veredas

...Ah, tem uma repetição que sempre outras vezes em minha vida acontece. Eu atravesso as coisas - e no meio da travessia não vejo! - só estava era entretido na idéia da saída e da chagada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar em outra banda é num ponto muito mais embaixo, bem diverso do que em primeiro se pansou. Viver nem num é muito perigoso?...

13 de março de 2009

essa ouvi no recife

sobre a intimidade:

"dê 1 real mas não dê liberdade"

da boca de manu galindo

12 de março de 2009

convite triste

Meu amigo, vamos sofrer,
vamos beber, vamos ler jornal,
vamos dizer que a vida é ruim,
meu amigo, vamos sofrer.

Vamos fazer um poema
ou qualquer outra besteira,
Fitar por exemplo uma estrela
por muito tempo, muito tempo
e dar um suspiro fundo
ou qualquer outra besteira.

Vamos beber uísque, vamos
beber cerveja preta e barata,
beber, gritar e morrer,
ou, quem sabe? beber, apenas.

Vamos xingar a mulher,
que está envenenando a vida
com seus olhos e suas mãos
e o corpo que tem dois seios
e tem um embigo também.
Meu amigo, vamos xingar
o corpo e tudo que é dele
e que nunca será alma.

Meu amigo, vamos cantar,
vamos chorar de mansinho
e ouvir muita vitrola,
depois embriagados vamos
beber mais outros seqüestros
(o olhar obsceno e a mão idiota)
depois vomitar e cair
e dormir.

Carlos Drummond de Andrade

15 de fevereiro de 2009

cinema é peitinho, tv é peitão


inaugurando a sessão máximas da sabedoria cinematográfica