15 de janeiro de 2017

vasculho caçambas
reviro lixeiras
em busca de algo brilhante para minha fantasia

13 de janeiro de 2017

ME CURAR DE MIM
Letra e música: Flaira
Sou a maldade em crise
Tendo que reconhecer
As fraquezas de um lado
Que nem todo mundo vê
Fiz em mim uma faxina e
Encontrei no meu umbigo
O meu próprio inimigo
Que adoece na rotina
Eu quero me curar de mim
Quero me curar de mim
Quero me curar de mim
O ser humano é esquisito
Armadilha de si mesmo
Fala de amor bonito
E aponta o erro alheio
Vim ao mundo em um só corpo
Esse de um metro e sessenta
Devo a ele estar atenta
Não posso mudar o outro
Eu quero me curar de mim
Quero me curar de mim
Quero me curar de mim
Vou pequena e pianinho
Fazer minhas orações
Eu me rendo da vaidade
Que destrói as relações
Pra me encher do que importa
Preciso me esvaziar
Minhas feras encarar
Me reconhecer hipócrita
Sou má, sou mentirosa
Vaidosa e invejosa
Sou mesquinha, grão de areia
Boba e preconceituosa
Sou carente, amostrada
Dou sorrisos, sou corrupta
Malandra, fofoqueira
Moralista, interesseira
E dói, dói, dói me expor assim
dói, dói, dói, despir-se assim.
Mas se eu não tiver coragem
Pra enfrentar os meus defeitos
De que forma, de que jeito,
Eu vou me curar de mim?
Se é que essa cura há de existir
Não sei. Só sei que a busco em mim
Só sei que a busco
Os Três Mal-Amados

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

11 de janeiro de 2017

http://www.revistaserrote.com.br/2017/01/o-escritor-como-leitor-por-ricardo-piglia/
TIRAR FOTOS...
Tirar fotos
Bater fotos é uma ação no tempo na qual alguma coisa é arrancada de seu próprio tempo e transferida para um tipo diferente de duração.
Em geral se acredita que o que é capturado nesse ato está DIANTE Da câmera.
Mas isso não é verdade.
Tirar fotos é uma ação em duas direções:
para a frente
e para trás.
Sim, tirar fotos também "sai pela culatra".
Essa comparação nem é tão capenga.
Assim como o caçador ergue sua espingarda, faz pontaria no cervo a sua frente, puxa o gatilho e, quando a bala sai do cano, é jogado para trás pelo coice da arma, o fotógrafo, analogamente, é jogado para trás, para si próprio, quando aperta o botão da câmera.
Uma fotografia é sempre uma imagem dupla, mostrando, à primeira vista, seu objeto, mas, num segundo olhar - mais ou menos visível, "escondido atrás dela", por assim dizer -, o "contracampo": a imagem do fotógrafo em ação.
Porém, assim como o caçador não é atingido pela bala, mas apenas sente o coice do disparo, essa contraimagem contida em toda fotografia tampouco é capturada pelas lentes.
(Embora de algum modo permaneça inextricavelmente na imagem, como uma impressão invisível do fotógrafo, que até chega a ser revelada na química da câmara escura....)
O que é então o coice do fotógrafo? Como sentimos seu impacto? Como ele afeta o objeto, e que vestígio dele aparece na fotografia?
Em alemão, há uma palavra muito reveladora para esse fenômeno, uma palavra conhecida em uma multiplicidade de contextos: EINSTELLUNG.
Significa a atitude com que alguém aborda alguma coisa psicológica ou eticamente, isto é, o modo de você entrar em sintonia e então "absorver" a coisa.
Mas Einstellung é também um termo de fotografia e cinema, que significa tanto o take (uma tomada específica e seu enquadramento) quanto o modo como a câmera é ajustada, em termos de abertura e da exposição mediante as quais o homem da câmera "tira" a foto.
Não é mera coincidência que (pelo menos em alemão) a mesma palavra defina tanto a atitude como a imagem assim produzida. Cada foto, de fato, reflete a atitude como a atitude de quem a tirou.
Assim, o coice do atirador corresponde ao retrato do fotógrafo que é mais ou menos visível "por trás da foto", só que, em vez de captar as feições dele (ou dela), define a ATITUDE do fotógrafo em relação ao que quer que esteja a sua frente.
A câmera, portanto, é um olho capaz de olhar para frente e para trás ao mesmo tempo. Para a frente, ela de fato "tira uma foto", para trás, registra uma vaga sombra, uma espécie de raio X da mente do fotógrafo, ao olhar direto através do olho dele (ou dela) para o fundo de sua alma.
Sim, para a frente, a câmera vê seu objeto, para trás vê o desejo de captar esse objeto específico em primeiro lugar, mostrando assim simultaneamente AS COISAS e O DESEJO por elas.
A cada segundo, em algum lugar do mundo, alguém abre um obturador apreendendo algo porque ele (ou ela) é fascinado por uma certa LUZ
ou ROSTO
ou GESTO
ou PAISAGEM
ou ESTADO DE ÂNIMO
ou simplesmente porque uma SITUAÇÃO quer ser apreendida.
Os objetos da fotografia, obviamente, são incontáveis, multiplicados ao infinito a cada segundo que passa. Ainda assim, cada momento em que uma foto é batida, em qualquer lugar do mundo em que ele ocorra , é um evento único, sua singularidade garantida pelo incessante progresso do tempo. (Até mesmo os zilhões de instantâneos de turistas naquelas "ocasiões para fotos" especialmente indicadas são, cada um deles, um evento que só ocorre uma vez. Mesmo em seus momentos mais triviais e corriqueiros, o tempo permanece irreversível.)
O que é espantoso em toda fotografia não é tanto que ela "congela o tempo" - como as pessoas geralmente acham-, mas sim que, ao contrário, o tempo prove de novo, a cada foto, O QUANTO é irrefreável e perpétuo.
Cada fotografia é um memento mori.
Cada fotografia fala sobre a vida e a morte.
Cada "imagem capturada" tem uma aura de sacralidade, transcende o olho do fotógrafo e excede toda capacidade humana: cada foto é também um ato de criação fora do tempo, da perspectiva de Deus, por assim dizer, relembrando aquele mandamento cada vez mais esquecido: "Não modelarás imagens".
Tirar fotos (melhor: ter o incrível privilégio de tirar fotos) é "bom demais para ser verdade". Mas do mesmo modo é verdade demais para ser bom.
Tirar fotos é sempre um ato de presunção e rebelião.
Tirar fotos, consequentemente, instila ganância e, com muito menos frequência, modéstia.
(É por essa razão que a atitude de jactância é muito mais comum em fotografia do que a atitude de humildade.)
Se, assim, a câmera atira em duas direções, para frente e para trás, fundindo ambas as imagens, de modo que o "atrás" se dissolve na "frente", ela permite ao fotógrafo, no momento exato do disparo, estar na frente com os objetos, em vez de separado deles. Através do "visor" o observador pode dar um passo para fora de sua concha para estar "do outro lado" do mundo, e com isso recordar melhor, compreender melhor, ver melhor, ouvir melhor e amar mais profundamente. (E, infelizmente, desprezar mais profundamente também, o "mau-olhado", afinal, existe.)
Em cada fotografia, há o início de uma história que começa com "Era uma vez...". Cada fotografia é o primeiro fotograma de um filme. Com frequência o momento seguinte, o segundo disparo alguns passos depois, isto é, a imagem subsequente, já está traçando o progresso dessa história em seu próprio espaço e em seu próprio tempo.
Assim, ao longo dos anos, pelo menos para mim, tirar fotos se converteu cada vez mais em "traçar histórias".
A cada segunda imagem, a "montagem" já está em curso, e a história que se anunciou na primeira imagem está agora seguindo sua própria direção, definindo seu senso de espaço e antevendo seu senso de tempo. As vezes novos atores aparecem, às vezes o suposto protagonista revela-se apenas um coadjuvante, e às vezes não há ninguém no centro, apenas uma paisagem.
Acredito firmemente no poder de construir histórias que as paisagens têm. Há paisagens, sejam cidades, sejam desertos, montanhas ou costas, que literalmente gritam pedindo que "SUAS HISTÓRIAS" sejam contadas.
Elas se evocam, chegam a fazê-las acontecer. Paisagens podem ser, elas mesmas, personagens principais, e as pessoas dentro delas, as figurantes.
Acredito com igual firmeza no poder narrativo dos objetos. Um jornal aberto, largado casualmente no canto de uma fotografia, pode contar tanta coisa!
Um cartaz no fundo do quadro!
O carro enferrujado projetando-se para fora de um dos lados da foto!
Uma cadeira!
Disposta ali de tal maneira que alguém devia estar sentado nela até poucos momentos atrás!
Um livro aberto sobre uma mesa com metade do título legível!
O maço de cigarros vazio na calçada!
A xícara de café com a colherinha dentro!
Nas fotos, COISAS podem ser serenas ou tristes, até mesmo cômicas ou trágicas.
Sem falar de roupas!
Em muitas fotos, elas são a parte mais interessante.
A meia baixada no tornozelo de uma criança!
O colarinho virado pra cima de um homem que só vemos de costas!
Manchas de suor!
Dobras!
Cerzidos e remendos!
Botões faltantes!
Uma camisa engomada!
A vida de uma mulher resumida toda em seu vestido, sua vida inteira revelando-se nas dores de um vestido!
O drama de uma pessoa expresso por um casaco!
Roupas indicam a temperatura de uma imagem, a data, a hora do dia, tempo de guerra ou tempo de paz.
E tudo isso aparece diante da Câmera só UMA VEZ, a cada fotografia converte essa uma vez numa eternidade.
Só ATRAVÉS da imagem capturada o tempo se torna visível, e no lapso do tempo ENTRE a primeira tomada e a segunda emerge a história, uma história que, não fosse por essas imagens, teria caído no esquecimento pela mesma eternidade.
Assim como queremos desaparecer no seio do mundo e no seio das coisas no exato momento de tirar a foto, o mundo e as coisas agora saltam da fotografia diante do observador, buscando sobreviver e durar ali.
É "ALI" que as histórias ganham vida, no olho do observador.
RETIRADO DO LIVRO "ONCE" DE WIM WENDERS.

9 de janeiro de 2017



é nois na faixa. respeita os pedestre porra.

5 de janeiro de 2017


gif de cena do filme porto de santos de Aluysio Raulino

2 de janeiro de 2017

"Sim, somos todas trabalhadoras, mas o suor do nosso ofício não tem a condenação bíblica do trabalho. Nosso suor é prazer e luta, alegria e esperança. Por isso, hoje estamos aqui."

discurso de posse de Cida Falabela.