Ele aparece como o vilão da história, ela como a chata: para todos os
efeitos, quem abandona é ele e quem gruda é ela. Mas, na verdade, são os
dois que precisam tanto do abandono, quanto do grude — pacto
simbiótico. Ambos precisam desta intermitência: na calada da noite,
silenciosamente, o tecido se desfaz, instaurando a ameaça de
desmanchamento do junto — e, conseqüentemente, de cada um
deles, indissociáveis nesse junto. À luz da manhã, os fios,
visivelmente, se tecem. Nessa alternância, o que se busca é estar certo
de que a trama desse drama perdura. É preciso ver para crer infinitas
vezes. Repetir sem parar o perigo de se desfiar, para certificar-se do
eterno e absoluto dessa trama. Penélope controla o tempo: tece a trama
da eternidade, Ulisses controla o espaço: monta a imagem da totalidade.
Dois estilos complementares da vontade de absoluto: imobilidade morna e
melosa, mobilidade fria e seca. É a mesma esterilidade. Uma só neurose:
equilíbrio homeostático. Medo de viver. Vontade de morrer.
trecho de: https://territoriosdefilosofia.wordpress.com/2014/06/07/amor-o-impossivel-e-uma-nova-suavidade-suely-rolnik/
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